Quando a atividade vira arte - Exibição (Casa Museum Abel Salazar - Porto 2021)

Declaração de arte:

Para esse processo a investigação não será uma reprodução mecânica de uma cópia, mas sim como se processa a forma como o artista se percebe em seu tempo e espaço. Na investigação baseada na arqueologia tecnológica monotampas e outros experimentos como a litografia, será uma oportunidade apropriada para explorar desde pedras tradicionais às alternativas, a forma de adaptar a casa e sua representação passando do privado ao acesso ao público e o que faz sentido e se conecta com as obras do artista em um diálogo entre a experiência e o estado de espírito em diferentes situações com o objetivo de reexplorar a proposta artística: “arte para todos”.

… Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a xxxxx de um homem é templo
Um templo sem religião
Como tampouco o sabia
Que a xxxxx que ele fazia
Sendo a sua liberdade,
Era a sua escravidão...
( fragmento do poema “O operário em construção” de Vinícius de Moraes)


Edição Ilimitada

Agora nos encontramos numa situação em que estar presente em uma exposição é um ato de coragem. O espectador que se expõe para ver a arte real em sua forma no tempo e no espaço, em oposição a uma imagem no ecrã de um computador ou de um telemóvel. Ver-me a produzir uma obra de arte permite ao espectador não só a oportunidade de contemplar a obra, que requer a ação de pensar, mas também dá o testemunho ao vê-la. O ato de imprimir uma série que se chamará Edição Ilimitada<, está relacionado ao contexto da minha investigação, sobre a diáspora africana. Diz respeito às causas e efeitos do pós-colonialismo e ao cansaço do trabalho contínuo sem remuneração. Esta ação é sustentada pela minha convicção de que a arte é para todos e todos requerem acesso à arte. Quero que o espectador tenha a oportunidade de assistir a produção do meu trabalho e também levar a obra para casa. Meu ponto de partida é a impressão no dispositivo litográfico, trazendo os elementos de repetição. Isso exige muito trabalho, pois as técnicas de impressão litográfica consideram que a reprodução das imagens deve ser perfeitamente similar. O trabalho contínuo traz fadiga física, levando a uma certa impaciência com o tempo, uma espécie de fardo que complica a nossa vida, quando questionamos se devemos substituir a quantidade pela qualidade. Mas, na arte, é preciso aprender as regras antes de poder quebrá-las. Variações nas edições significam cansaço ou falta de concentração, mas alternativamente vejo essas variações como uma oportunidade de criar peças únicas.

Não apenas a imagem se multiplica, mas o processo de execução da imagem latente é a chave que fornece em seu ato simbólico o poder de trancar à medida que se abre para liberar e dar liberdade. As obras serão produzidas em quantidades a serem entregues aos espectadores. Esse trabalho não remunerado pode estar relacionado à exploração do ato entre raças e classes, mas também como manifesto que a arte deve ser para todos.

Antonio Regis Da Silva