Presas Profundas (2020)

Há outras questões que surgem sobre as narrativas e o significado que le-se em tais materiais e suas formas, e como elas poder ser altera-las à medida que um material é reciclado, reutilizado ou com novas funções, como um objeto de arte. Reagimos ao conhecimento implícito de material puro; como o ferro e seu uso para pregos ou manilhas, madeira como material para barcos, para proteção ou queima, corda como material para capturar e amarrar peixes ou animais ou para restringir pessoas. É claro que o contexto é sempre a questão, a maneira como cada um é apresentado como parte de uma instalação de objetos, formas e materiais que reconstituem narrativas e alusões na mente do público. Portanto, como artista, escrevo o significado em objetos, reunindo elementos para direcionar o espectador a um conjunto de idéias. Não se trata de convencer alguém de alguma coisa, mas de criar construções e suspensões que têm uma 'tensão' psicológica / estética / narrativa em sua forma, presente nos materiais. Esses elementos podem ser orquestrados para incentivar níveis de conscientização resultantes da experiência do trabalho do espectador.

Minha referência à tensão, espaço, leis da física se vincula às narrativas de materiais "puros", como ferro, corda e madeira, e parece ter uma sensibilidade portuguesa particular. Procuro assim, olhar para esses aspectos históricos, coloniais, filosóficos e culturais na posição condições de um artista. Minha identidade como negro e brasileiro oferece uma perspectiva única para fazer obras de arte que questionem história, colonialismo, raça, gênero e geografia que através dos objetos e imagens venho criando e, além disso, tendo como herança na arte e na cultura brasileira, o estimulo para uma nova abordagem.